sexta-feira, maio 16

Os distúrbios da glândula tireoide representam um dos problemas endócrinos mais comuns no Brasil.

A disfunção tireoidiana afeta significativamente a população brasileira, com o hipotireoidismo atingindo entre 8% e 12% dos cidadãos.

Estes números revelam a dimensão de um problema de saúde que, muitas vezes, passa despercebido devido aos sintomas sutis em suas fases iniciais.

Uma tireoide desregulada pode comprometer seriamente a qualidade de vida, interferindo no metabolismo, no controle de peso, nos níveis de energia e até mesmo no equilíbrio emocional.

As mulheres são particularmente vulneráveis, sendo afetadas numa proporção de 5 a 7 para cada homem diagnosticado. Esta disparidade de gênero torna o tema especialmente relevante para a saúde feminina.

O diagnóstico precoce das alterações na tireoide é fundamental para evitar complicações a longo prazo.

Identificar os sinais de alerta e buscar acompanhamento médico adequado pode fazer toda diferença no tratamento da disfunção tireoidiana.

Compreender os sintomas e as opções terapêuticas disponíveis é o primeiro passo para recuperar o equilíbrio desta glândula essencial ao funcionamento do organismo.

O que é a tireoide e qual sua função no organismo

Localizada na região anterior do pescoço, a tireoide é uma glândula em formato de borboleta que regula diversas funções metabólicas essenciais.

De acordo com a profissional de endocrinologia Dra. Camila Farias, que atende em Goiânia, este pequeno órgão, que pesa entre 15 e 25 gramas em adultos, exerce influência sobre praticamente todos os tecidos do corpo humano, controlando desde o ritmo cardíaco até o funcionamento cerebral.

A tireoide funciona como uma verdadeira central reguladora do metabolismo, determinando a velocidade com que nosso corpo utiliza energia, produz proteínas e responde a outros hormônios.

Quando esta glândula trabalha adequadamente, raramente pensamos nela, mas qualquer desequilíbrio em seu funcionamento pode afetar significativamente nossa qualidade de vida.

Anatomia e localização da glândula tireoide

A glândula tireoide situa-se na parte inferior do pescoço, logo abaixo da laringe (popularmente conhecida como “pomo de Adão”) e à frente da traqueia.

Seu formato característico de borboleta deve-se aos dois lobos laterais que se conectam por uma porção central chamada istmo.

Rica em vasos sanguíneos, a tireoide recebe um fluxo sanguíneo proporcionalmente maior que muitos outros órgãos do corpo.

Esta característica é fundamental para que ela possa captar o iodo presente na circulação, elemento essencial para a produção dos hormônios tireoidianos.

Microscopicamente, a glândula é formada por milhares de folículos tireoidianos – pequenas estruturas esféricas onde os hormônios são produzidos e armazenados.

Entre estes folículos, encontram-se as células parafoliculares, responsáveis pela produção da calcitonina, hormônio que participa da regulação dos níveis de cálcio no organismo.

Hormônios tireoidianos e seu papel no metabolismo

Os principais hormônios produzidos pela tireoide são a tiroxina (T4) e a tri-iodotironina (T3). O T4 é produzido em maior quantidade, funcionando principalmente como um pró-hormônio que é convertido em T3 nos tecidos-alvo.

O T3, por sua vez, é a forma biologicamente mais ativa, exercendo efeitos diretos nas células. Para sintetizar estes hormônios, a tireoide necessita de iodo, nutriente obtido principalmente através da alimentação.

O iodo é incorporado a uma proteína chamada tireoglobulina, formando os precursores que darão origem ao T3 e T4. Este processo é fascinante e demonstra a complexidade do sistema endócrino humano.

Os hormônios tireoidianos atuam em praticamente todas as células do corpo, regulando o metabolismo basal – a quantidade de energia que o organismo consome em repouso.

Eles influenciam diretamente a frequência cardíaca, a temperatura corporal, o funcionamento intestinal e até mesmo o desenvolvimento cerebral.

A produção destes hormônios é controlada por um sofisticado sistema de feedback que envolve o hipotálamo e a hipófise.

Quando os níveis de hormônios tireoidianos estão baixos, a hipófise libera o Hormônio Estimulante da Tireoide (TSH), que sinaliza para a glândula aumentar sua produção hormonal.

Este mecanismo de regulação é fundamental para manter o equilíbrio metabólico. Qualquer alteração neste delicado sistema pode resultar em doenças da tireoide, como o hipotireoidismo (produção insuficiente de hormônios) ou o hipertireoidismo (produção excessiva).

Estas condições afetam milhões de brasileiros e podem manifestar-se através de diversos sintomas, desde fadiga crônica até alterações no peso corporal.

Tireoide desregulada: entendendo os principais distúrbios

A tireoide desregulada pode resultar em diferentes condições clínicas que impactam significativamente a qualidade de vida.

Quando esta glândula não funciona adequadamente, o equilíbrio hormonal do corpo é comprometido, afetando praticamente todos os sistemas orgânicos.

Compreender os principais distúrbios tireoidianos é fundamental para o diagnóstico precoce e tratamento adequado.

Os distúrbios da tireoide são extremamente comuns na população brasileira, especialmente entre as mulheres.

Estima-se que cerca de 10% da população adulta apresente algum tipo de disfunção tireoidiana ao longo da vida, muitas vezes sem perceber os sintomas iniciais.

Tipos de disfunções tireoidianas

As disfunções da tireoide podem ser classificadas principalmente em dois grandes grupos: aquelas que causam aumento da produção hormonal (hipertireoidismo) e as que provocam diminuição dessa produção (hipotireoidismo).

Além disso, existem condições estruturais, como nódulos e inflamações, que também afetam o funcionamento adequado da glândula.

Tireoidite de Hashimoto

A tireoidite de Hashimoto é a causa mais comum de hipotireoidismo no Brasil e no mundo. Trata-se de uma doença autoimune em que o sistema imunológico produz anticorpos que atacam a própria tireoide, causando inflamação crônica e, eventualmente, redução da função glandular.

Esta condição tem forte componente genético. A tireoidite de Hashimoto é uma das doenças autoimunes que têm incidência aumentada em pessoas da mesma família.

Seu desenvolvimento é geralmente lento e progressivo, podendo levar anos até que os sintomas de hipotireoidismo se tornem evidentes.

Os principais sintomas incluem fadiga, ganho de peso inexplicável, intolerância ao frio, pele seca e constipação.

O diagnóstico é confirmado pela presença de anticorpos anti-tireoidianos no sangue, especialmente anti-TPO (anti-tireoperoxidase) e anti-tireoglobulina.

Doença de Graves

A doença de Graves é a principal causa de hipertireoidismo. Assim como a tireoidite de Hashimoto, trata-se de uma condição autoimune, porém com mecanismo diferente.

Neste caso, o sistema imunológico produz anticorpos que estimulam a tireoide a produzir hormônios em excesso.

Esta condição é caracterizada por sintomas como perda de peso apesar do aumento do apetite, taquicardia, tremores, ansiedade, intolerância ao calor e insônia.

Um sinal característico é a oftalmopatia de Graves, que causa protrusão dos olhos (exoftalmia), dando a aparência de “olhos saltados”.

A doença de Graves afeta predominantemente mulheres entre 30 e 50 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade.

O diagnóstico é confirmado pela presença de anticorpos estimuladores do receptor de TSH (TRAb) no sangue.

Síndrome do nó tireoidiano

A síndrome do nó tireoidiano refere-se à presença de nódulos na glândula tireoide. Estes nódulos são extremamente comuns, especialmente em mulheres e pessoas idosas.

Dados epidemiológicos mostram que mulheres com mais de 40 anos têm cerca de 40% de probabilidade de apresentar nódulos na tireoide; acima dos 50 anos, esse número sobe para 50%; e, depois dos 70 anos, praticamente 90% delas têm nódulos na tireoide.

A maioria dos nódulos tireoidianos é benigna e não causa sintomas. No entanto, alguns nódulos podem produzir hormônios em excesso (nódulos autônomos) ou, em casos mais raros, representar um câncer de tireoide. Por isso, todos os nódulos devem ser avaliados adequadamente.

A avaliação inicial inclui exames de imagem, como ultrassonografia, e dosagens hormonais. Dependendo das características do nódulo, pode ser necessária a realização de uma punção aspirativa por agulha fina (PAAF) para análise citológica.

Fatores de risco e causas comuns

Diversos fatores podem contribuir para o desenvolvimento de distúrbios hormonais relacionados à tireoide.

A predisposição genética é um dos principais fatores, especialmente para doenças autoimunes como Hashimoto e Graves. Pessoas com histórico familiar dessas condições têm risco aumentado de desenvolvê-las.

A deficiência de iodo ainda é uma causa importante de distúrbios tireoidianos em algumas regiões do mundo.

No Brasil, com a adição de iodo ao sal de cozinha, essa deficiência tornou-se menos comum, mas ainda pode ocorrer em áreas remotas ou em pessoas com dietas muito restritivas.

A exposição à radiação, especialmente na região do pescoço, aumenta o risco de problemas na tireoide, incluindo câncer.

Tratamentos radioterápicos para outros tipos de câncer na região da cabeça e pescoço também podem afetar a função tireoidiana.

Alguns medicamentos podem interferir na função da tireoide, como amiodarona (usado para arritmias cardíacas), lítio (usado em transtornos psiquiátricos) e certos quimioterápicos. Sempre informe seu médico sobre todos os medicamentos que utiliza.

Mulheres têm risco significativamente maior de desenvolver distúrbios tireoidianos, especialmente durante períodos de mudanças hormonais como gravidez, pós-parto e menopausa. A tireoidite pós-parto, por exemplo, afeta cerca de 5-10% das mulheres no primeiro ano após o parto.

O envelhecimento também aumenta a probabilidade de alterações na tireoide, tanto funcionais quanto estruturais.

Com o avançar da idade, a prevalência de nódulos e de hipotireoidismo subclínico aumenta consideravelmente.

Hipotireoidismo: quando a tireoide funciona abaixo do normal

A produção reduzida de hormônios tireoidianos caracteriza o hipotireoidismo, condição que afeta entre 8% e 12% da população brasileira.

Este distúrbio hormonal é significativamente mais comum em mulheres e tende a aumentar sua incidência com o avanço da idade, especialmente após os 60 anos.

No hipotireoidismo, a queda na produção dos hormônios T3 e T4 compromete diretamente o metabolismo corporal.

Como estes hormônios são fundamentais para ativar processos metabólicos em praticamente todas as células, sua deficiência provoca uma desaceleração generalizada no funcionamento do organismo.

Esta condição pode se desenvolver lentamente ao longo de anos, com sintomas que muitas vezes são confundidos com o processo natural de envelhecimento ou com outras condições médicas.

Por isso, o diagnóstico precoce e o acompanhamento adequado são essenciais para garantir qualidade de vida aos pacientes.

Sintomas característicos do hipotireoidismo

Os sinais do hipotireoidismo refletem diretamente a diminuição do metabolismo corporal. O ganho de peso sem causa aparente é uma das queixas mais comuns, mesmo sem alterações significativas na alimentação.

Isso ocorre porque o corpo queima calorias mais lentamente quando há deficiência de hormônios tireoidianos.

A fadiga crônica e a sensação constante de cansaço são manifestações marcantes. Muitos pacientes relatam que, mesmo após uma noite completa de sono, acordam sem disposição e sentem-se exaustos com atividades cotidianas que antes realizavam sem dificuldade.

A intolerância ao frio também é característica, com pacientes sentindo frio mesmo em ambientes com temperatura agradável para outras pessoas.

Isso acontece porque o hipotireoidismo reduz a termogênese, processo pelo qual o corpo gera calor.

Alterações na pele e anexos são frequentes, incluindo:

  • Pele seca, áspera e pálida
  • Cabelos quebradiços e com queda acentuada
  • Unhas frágeis que quebram facilmente
  • Edema (inchaço), especialmente facial e nas pálpebras

O sistema digestivo também é afetado, com constipação intestinal crônica sendo um sintoma comum. A redução da motilidade intestinal dificulta o trânsito das fezes, causando desconforto e sensação de abdômen distendido.

No aspecto neurológico e cognitivo, pacientes frequentemente experimentam o que muitos descrevem como “névoa mental” (brain fog).

Há dificuldade de concentração, problemas de memória e lentidão no raciocínio, além de maior propensão à depressão.

“Antes do diagnóstico, eu não conseguia entender por que estava sempre cansada e com dificuldade para me concentrar no trabalho.

Achava que era apenas estresse”, relata Maria, 42 anos, diagnosticada com hipotireoidismo há três anos.

Outros sintomas importantes incluem:

  • Diminuição da frequência cardíaca (bradicardia)
  • Alterações menstruais, com fluxo intenso ou irregular
  • Redução da libido e problemas de fertilidade
  • Dores musculares e nas articulações
  • Voz mais rouca ou grave
  • Inchaço na região anterior do pescoço (bócio)

Diagnóstico e acompanhamento

O diagnóstico do hipotireoidismo é realizado principalmente através de exames laboratoriais que avaliam os níveis de hormônios no sangue.

O médico endocrinologista solicitará inicialmente a dosagem de TSH (hormônio estimulante da tireoide) e T4 livre, considerados os principais marcadores para avaliação da função tireoidiana.

No hipotireoidismo, tipicamente observa-se:

  • TSH elevado: o organismo tenta compensar a baixa produção hormonal estimulando mais a tireoide
  • T4 livre baixo: confirmando a produção insuficiente de hormônios pela glândula

É importante diferenciar o hipotireoidismo clínico do subclínico. No hipotireoidismo subclínico, o TSH está elevado, mas os níveis de T4 livre ainda se mantêm dentro da faixa de normalidade.

Esta condição pode ser assintomática ou apresentar sintomas leves, mas requer acompanhamento médico, pois pode evoluir para hipotireoidismo clínico.

Além dos exames hormonais, o médico pode solicitar a pesquisa de anticorpos antitireoidianos, especialmente anti-TPO (antiperoxidase) e anti-TG (antitireoglobulina), para identificar causas autoimunes como a tireoidite de Hashimoto, responsável pela maioria dos casos de hipotireoidismo no Brasil.

O acompanhamento regular com endocrinologista é fundamental após o diagnóstico. O tratamento geralmente envolve a reposição hormonal com levotiroxina sintética, cuja dose precisa ser ajustada individualmente com base nos resultados dos exames e na resposta clínica do paciente.

Durante o tratamento, são necessárias avaliações periódicas dos níveis hormonais, geralmente a cada 6-8 semanas no início e, posteriormente, a cada 6-12 meses quando a condição estiver estabilizada. Estes exames permitem ajustes na medicação para manter os níveis hormonais adequados.

Situações especiais como gravidez, menopausa ou desenvolvimento de outras condições médicas podem alterar as necessidades hormonais, exigindo reavaliação e possíveis ajustes no tratamento.

Na gravidez, por exemplo, as necessidades de hormônio tireoidiano aumentam significativamente, sendo essencial o monitoramento rigoroso para garantir o desenvolvimento adequado do feto.

O hipotireoidismo, quando adequadamente diagnosticado e tratado, permite que o paciente tenha uma vida normal e saudável.

Porém, o tratamento geralmente é contínuo e requer comprometimento com o uso regular da medicação e com as consultas de acompanhamento.

Hipertireoidismo: quando a tireoide está hiperativa

A produção excessiva de hormônios tireoidianos caracteriza o hipertireoidismo, uma condição que acelera o metabolismo e gera diversos sintomas no organismo.

Diferente do hipotireoidismo, esta disfunção tireoidiana provoca uma hiperativação generalizada das funções corporais, como se o corpo estivesse constantemente acelerado.

O hipertireoidismo pode ser causado por diferentes fatores, como a doença de Graves (condição autoimune), nódulos tireoidianos hiperfuncionantes ou inflamação da glândula.

Em todos os casos, o resultado é o mesmo: uma quantidade elevada de hormônios circulantes que sobrecarregam os sistemas do corpo.

Sinais e sintomas do hipertireoidismo

Os sintomas do hipertireoidismo refletem diretamente a aceleração metabólica causada pelo excesso hormonal.

A perda de peso inexplicada, mesmo com aumento do apetite, é um dos sinais mais característicos desta condição. Muitas pessoas perdem peso rapidamente, apesar de comerem normalmente ou até mais que o habitual.

A taquicardia (batimentos cardíacos acelerados) e palpitações são queixas frequentes, assim como tremores nas mãos e dedos.

Pacientes também relatam nervosismo constante, irritabilidade, ansiedade e dificuldade para relaxar. A insônia ou redução da necessidade de sono é outro sintoma comum.

Outros sinais incluem intolerância ao calor, sudorese excessiva, fraqueza muscular e fadiga. Muitas pessoas apresentam diarreia ou aumento do número de evacuações diárias.

Nas mulheres, alterações menstruais são comuns, enquanto homens podem desenvolver ginecomastia (aumento das mamas).

Um sinal característico, especialmente na doença de Graves, é a oftalmopatia – alterações oculares como olhos saltados (exoftalmia), irritação, visão dupla e sensação de areia nos olhos.

Estes sintomas muitas vezes são confundidos com transtornos de ansiedade ou estresse, retardando o diagnóstico correto.

Complicações e riscos à saúde

O hipertireoidismo não tratado pode levar a complicações graves. Problemas cardíacos são especialmente preocupantes, incluindo fibrilação atrial (ritmo cardíaco irregular), que aumenta o risco de formação de coágulos e acidentes vasculares cerebrais.

A insuficiência cardíaca também pode se desenvolver devido ao esforço constante imposto ao coração.

A aceleração do metabolismo ósseo provoca perda de densidade mineral, levando à osteoporose e aumentando significativamente o risco de fraturas, mesmo em pessoas jovens.

Nas mulheres, pode haver comprometimento da fertilidade e complicações durante a gravidez. A oftalmopatia de Graves, quando severa, pode causar danos permanentes à visão se não for tratada adequadamente.

Em casos extremos, pode ocorrer a crise tireotóxica – uma emergência médica potencialmente fatal caracterizada por febre alta, confusão mental, desidratação e insuficiência cardíaca.

É importante alertar sobre o uso indevido de hormônios tireoidianos para emagrecimento, prática perigosa e sem respaldo médico.

Embora o hipertireoidismo cause perda de peso, esta ocorre principalmente às custas de massa muscular e proteínas, resultando em um emagrecimento não saudável que pode trazer sérias consequências à saúde.

O diagnóstico precoce e o tratamento adequado do hipertireoidismo são fundamentais para evitar estas complicações e garantir uma boa qualidade de vida aos pacientes com esta disfunção tireoidiana.

Como é feito o diagnóstico dos distúrbios tireoidianos

Identificar corretamente uma disfunção tireoidiana depende de um processo diagnóstico estruturado e abrangente.

O médico especialista combina a avaliação dos sintomas relatados pelo paciente com um exame físico detalhado e, principalmente, com exames complementares específicos.

Este conjunto de informações permite determinar com precisão o tipo de alteração presente e direcionar o tratamento mais adequado.

A detecção precoce de problemas na tireoide é fundamental para evitar complicações e garantir melhor qualidade de vida.

Muitas vezes, os sintomas podem ser sutis ou confundidos com outras condições, tornando os exames laboratoriais e de imagem essenciais para um diagnóstico correto.

Exames laboratoriais essenciais

O primeiro passo na investigação de distúrbios tireoidianos é a dosagem do TSH (Hormônio Estimulador da Tireoide).

Este hormônio é produzido pela hipófise, uma glândula localizada no cérebro, e tem como função regular a produção dos hormônios tireoidianos.

Quando a tireoide não funciona adequadamente, os níveis de TSH se alteram de forma compensatória.

No hipotireoidismo, como a produção de hormônios tireoidianos está reduzida, o organismo aumenta a produção de TSH na tentativa de estimular a glândula.

Já no hipertireoidismo, ocorre o oposto: o excesso de hormônios tireoidianos leva à diminuição do TSH.

Além do TSH, a dosagem dos hormônios T4 (tiroxina) e T3 (triiodotironina), tanto em suas formas totais quanto livres, é fundamental para confirmar o diagnóstico. Estes exames ajudam a determinar se o problema está na própria tireoide ou na hipófise.

Para casos de suspeita de doenças autoimunes, como a tireoidite de Hashimoto ou a doença de Graves, são solicitados exames de anticorpos específicos.

Os mais comuns são o anti-TPO (antiperoxidase), anti-tireoglobulina e TRAb (anticorpos contra receptores de TSH).

Exames de imagem e outros procedimentos

A ultrassonografia da tireoide é o exame de imagem mais utilizado para avaliar a estrutura da glândula.

Este procedimento não invasivo permite identificar alterações no tamanho, formato e textura da tireoide, além de detectar a presença de nódulos tireoidianos.

Quando um nódulo é encontrado, o médico avalia suas características como tamanho, composição (sólido ou cístico) e padrão de vascularização.

Nódulos com mais de 1 centímetro geralmente requerem investigação adicional, como a punção aspirativa por agulha fina (PAAF), que coleta células para análise microscópica.

A cintilografia da tireoide é outro exame importante, especialmente em casos de hipertireoidismo. Neste procedimento, uma pequena quantidade de material radioativo é administrada e captada pela glândula, permitindo avaliar seu funcionamento e identificar áreas de maior ou menor atividade.

Em situações específicas, exames como tomografia computadorizada e ressonância magnética podem ser solicitados para avaliar a extensão de nódulos maiores ou verificar possíveis compressões de estruturas adjacentes.

Quando procurar um endocrinologista

Alguns sinais e sintomas devem alertar para a necessidade de consultar um endocrinologista para investigar possíveis disfunções tireoidianas.

Alterações inexplicadas de peso (ganho ou perda) sem mudanças na alimentação ou atividade física são um sinal importante.

Fadiga persistente, sensibilidade anormal ao frio ou ao calor, alterações no ritmo cardíaco e mudanças de humor também podem indicar problemas na tireoide.

Mulheres com ciclos menstruais irregulares, dificuldade para engravidar ou alterações na pele e cabelos devem ficar atentas.

O histórico familiar de doenças tireoidianas aumenta o risco de desenvolver problemas semelhantes. Por isso, pessoas com parentes de primeiro grau afetados devem realizar exames periódicos, mesmo sem sintomas aparentes.

Recomenda-se que todas as pessoas, especialmente mulheres acima dos 40 anos, realizem exames de rotina para avaliar a função tireoidiana.

Durante a gravidez, o rastreamento também é importante, pois alterações na tireoide podem afetar o desenvolvimento do bebê.

Caso você apresente qualquer sintoma suspeito ou tenha fatores de risco, não hesite em buscar avaliação médica.

O diagnóstico precoce de distúrbios tireoidianos permite um tratamento mais eficaz e previne complicações a longo prazo.

Tratamentos modernos para a tireoide desregulada

Quando a tireoide apresenta desregulação, seja por hipotireoidismo ou hipertireoidismo, existem tratamentos modernos que podem controlar efetivamente os sintomas e restaurar o equilíbrio hormonal.

A escolha da abordagem terapêutica depende do tipo específico de disfunção, da gravidade dos sintomas e das características individuais de cada paciente.

O avanço da medicina endocrinológica permite hoje um tratamento personalizado, com monitoramento preciso e ajustes que garantem melhor qualidade de vida.

Vamos conhecer as principais opções disponíveis para quem enfrenta problemas na tireoide.

Terapia medicamentosa

O tratamento medicamentoso é a primeira linha de abordagem para a maioria dos distúrbios tireoidianos.

Dependendo do diagnóstico, diferentes medicações podem ser prescritas para normalizar a função da glândula.

Levotiroxina e outros hormônios sintéticos

Para o hipotireoidismo, o tratamento padrão é a reposição hormonal com levotiroxina, uma versão sintética do hormônio T4 produzido naturalmente pela tireoide.

Este medicamento deve ser tomado diariamente, preferencialmente em jejum, cerca de 30 minutos antes do café da manhã.

A absorção da levotiroxina ocorre no intestino, por isso é fundamental que o comprimido seja ingerido com água e longe de outros medicamentos ou suplementos que possam interferir em sua absorção.

Alimentos ricos em fibras, cálcio e ferro podem reduzir a eficácia do medicamento. O tratamento com levotiroxina é considerado seguro e com poucos efeitos colaterais, já que apenas repõe um hormônio que o corpo naturalmente produz.

A dose inicial é calculada com base no peso e idade do paciente, sendo ajustada conforme os resultados dos exames periódicos de TSH e T4.

Medicamentos antitireoidianos

No caso do hipertireoidismo, os medicamentos antitireoidianos como metimazol e propiltiouracil são utilizados para bloquear a produção excessiva de hormônios pela glândula.

Estes remédios atuam inibindo a enzima que participa da síntese dos hormônios tireoidianos. O tratamento com antitireoidianos geralmente dura de 12 a 18 meses, período após o qual muitos pacientes entram em remissão.

Durante o uso desses medicamentos, é necessário monitoramento regular da função hepática e dos níveis de células sanguíneas, pois podem ocorrer efeitos colaterais como alterações hepáticas e diminuição dos glóbulos brancos.

Em alguns casos, betabloqueadores como propranolol também são prescritos temporariamente para aliviar sintomas como taquicardia, tremores e ansiedade enquanto os antitireoidianos começam a fazer efeito.

Iodoterapia: quando é indicada

A iodoterapia, ou tratamento com iodo radioativo (I-131), é uma opção terapêutica eficaz principalmente para casos de hipertireoidismo, como na doença de Graves.

Este procedimento consiste na ingestão de uma cápsula ou líquido contendo iodo radioativo, que é captado seletivamente pelas células da tireoide.

A radiação emitida pelo iodo destrói parte do tecido tireoidiano, reduzindo a produção excessiva de hormônios.

O tratamento é realizado em dose única e não requer internação, embora sejam necessários alguns cuidados de isolamento nos primeiros dias após o procedimento para evitar exposição de outras pessoas à radiação.

A iodoterapia é especialmente indicada quando há recidiva do hipertireoidismo após tratamento medicamentoso, em pacientes com contraindicações ou efeitos colaterais importantes aos antitireoidianos, ou quando há preferência por um tratamento definitivo.

É importante saber que muitos pacientes desenvolvem hipotireoidismo após a iodoterapia, necessitando posteriormente de reposição hormonal com levotiroxina.

Abordagem cirúrgica e suas indicações

A cirurgia de tireoide, conhecida como tireoidectomia (parcial ou total), é recomendada em situações específicas como nódulos suspeitos de malignidade, bócio volumoso causando sintomas compressivos, hipertireoidismo resistente a outros tratamentos ou câncer de tireoide.

Os avanços nas técnicas cirúrgicas permitem hoje procedimentos menos invasivos, com incisões menores e recuperação mais rápida.

A cirurgia é realizada sob anestesia geral e, dependendo da extensão, pode durar de uma a três horas.

Entre os riscos potenciais da tireoidectomia estão lesões nos nervos laríngeos (que podem afetar a voz), danos às glândulas paratireoides (que controlam o cálcio no sangue) e sangramento.

No entanto, quando realizada por cirurgiões experientes, a taxa de complicações é baixa. Após a remoção total da tireoide, o paciente necessitará de reposição hormonal com levotiroxina pelo resto da vida.

Mesmo na tireoidectomia parcial, pode haver necessidade de suplementação hormonal, dependendo da quantidade de tecido remanescente e sua capacidade funcional.

O acompanhamento pós-cirúrgico inclui exames periódicos para ajuste da medicação e monitoramento da função tireoidiana, garantindo que os níveis hormonais permaneçam adequados e que o paciente mantenha boa qualidade de vida.

Vivendo bem com distúrbios da tireoide: alimentação e estilo de vida

Conviver com doenças da tireoide exige adaptações no cotidiano que podem fazer grande diferença na qualidade de vida.

Uma alimentação balanceada rica em nutrientes específicos como iodo, selênio e zinco contribui para o equilíbrio da função tireoidiana.

Peixes marinhos, castanha-do-pará e carnes magras são excelentes fontes desses nutrientes. A partir dos 40 anos, recomenda-se a dosagem anual do TSH junto aos exames de colesterol, triglicérides e glicemia.

Este monitoramento facilita a identificação precoce de alterações, mesmo quando ainda subclínicas.

Pessoas com histórico familiar de problemas tireoidianos devem iniciar este acompanhamento mais cedo, conforme orientação médica.

A prática regular de atividade física adaptada à condição de cada paciente ajuda a controlar o peso e reduzir sintomas como fadiga e alterações de humor.

Técnicas de relaxamento como meditação e yoga auxiliam no gerenciamento do estresse, fator que pode agravar os distúrbios tireoidianos.

O acompanhamento nutricional é fundamental para pacientes com nódulos tireoidianos ou outras disfunções, pois permite ajustar a dieta às necessidades individuais, aumentando o consumo de gorduras saudáveis, fibras e antioxidantes.

Manter o tratamento medicamentoso conforme prescrito e não faltar às consultas de acompanhamento são passos essenciais para garantir o controle adequado da condição e prevenir complicações futuras.

Imagem: canva.com

Giselle Wagner é formada em jornalismo pela Universidade Santa Úrsula. Trabalhou como estagiária na rádio Rio de Janeiro. Depois, foi editora chefe do Notícia da Manhã, onde cobria assuntos voltados à política brasileira.