sexta-feira, abril 11

O consumo inadequado de substâncias farmacêuticas representa um desafio crescente no país. Centros de reabilitação de drogas em São Paulo alertam sobre o aumento no uso não médico de opióides, um fenômeno que preocupa autoridades sanitárias.

No contexto brasileiro, a automedicação atinge 77% da população, segundo o Conselho Federal de Farmácia. Essa prática traz riscos como reações adversas, resistência bacteriana e intoxicações.

O problema ganhou destaque durante a pandemia, quando muitas pessoas buscaram tratamentos sem comprovação científica. Eventos como o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos buscam conscientizar sobre esses perigos.

Este artigo explora as causas, consequências e possíveis soluções para esse cenário. A análise inclui dados relevantes e estratégias adotadas por unidades de saúde em território nacional.

O cenário atual da dependência de medicamentos no Brasil

O uso inadequado de substâncias controladas tem chamado atenção nos últimos anos. Dados recentes mostram um crescimento preocupante no consumo sem prescrição médica.

Dados alarmantes sobre o uso abusivo de opióides

Segundo a UNODC, cerca de 0,5% da população brasileira faz uso não médico de opióides. A codeína aparece como a substância mais consumida na região.

Outro dado relevante mostra que 900 mil pessoas usavam cocaína em 2011. No entanto, as apreensões desse tipo de droga caíram nos últimos anos.

Comparação com outros países da América do Sul

Na América do Sul, as taxas de uso variam pouco. Bolívia registra 0,6%, enquanto Chile e Brasil ficam em 0,5%.

O país também serve como rota importante para o tráfico internacional. Em 2009, foram apreendidas 1,5 tonelada de drogas com destino à Europa.

Enquanto isso, na América Central, a Costa Rica lidera com 2,8% de consumo de opióides. Esses números ajudam a entender o contexto regional.

Principais causas da dependência de medicamentos

Vários fatores contribuem para o aumento do consumo inadequado de substâncias farmacêuticas. Entre eles, destacam-se práticas comuns na sociedade e falhas na regulamentação do setor.

Automedicação e falta de orientação profissional

Pesquisas mostram que 68% dos brasileiros usam remédios por indicação de familiares. Além disso, quase metade segue conselhos de balconistas sem formação adequada.

Esse comportamento gera riscos graves. Dados revelam que 29% das intoxicações estão ligadas ao uso incorreto desses produtos.

Falta de controle na venda de medicamentos tarjados

A venda fracionada incentiva o acúmulo em casa. Muitas pessoas compram quantidades além do necessário, facilitando o uso excessivo.

Outro problema são as tarjas vermelhas e negras. Apesar das regras, alguns estabelecimentos não seguem as normas de venda.

Influência da indústria farmacêutica e marketing agressivo

O mercado farmacêutico investe pesado em publicidade. Muitas campanhas transformam questões cotidianas em problemas médicos.

Um exemplo marcante ocorreu em 2011. Naquele ano, autoridades proibiram fórmulas combinadas de anorexígenos após casos graves.

O analfabetismo funcional também piora a situação. Com 11,8 milhões de pessoas nessa condição, a compreensão das bulas se torna difícil.

Consequências do uso indiscriminado de medicamentos

O abuso de substâncias farmacêuticas gera efeitos graves tanto para indivíduos quanto para a sociedade. Problemas vão desde danos à saúde até pressão excessiva nos serviços públicos.

Riscos à saúde: reações adversas e dependência química

Substâncias comuns como dipirona e paracetamol respondem por 31% das reações graves. Uso prolongado pode causar hepatotoxicidade, especialmente em doses acima do recomendado.

Estudos mostram que metade dos pacientes não segue orientações corretas. Isso aumenta casos de intoxicação e interações perigosas entre diferentes compostos.

Idosos são grupo vulnerável. A polifarmácia, consumo de quatro ou mais remédios juntos, eleva riscos de efeitos colaterais.

Impacto no sistema público de saúde

O SUS gasta R$ 60 milhões anualmente com internações por automedicação. Cirurgias são adiadas devido à falta de anestésicos, afetando milhares de pessoas.

Antibióticos usados de forma errada contribuem para resistência bacteriana. Esse cenário preocupa especialistas e demanda ações urgentes.

Profissionais de saúde enfrentam sobrecarga com atendimentos evitáveis. A conscientização se torna ferramenta essencial para reduzir esses números.

Medidas para combater a dependência de medicamentos no Brasil

Autoridades e especialistas têm desenvolvido estratégias eficazes para reduzir os riscos associados ao consumo inadequado. Essas iniciativas envolvem desde políticas públicas até ações diretas dos profissionais de saúde.

Políticas públicas e sistemas de controle

Em 2011, o país implementou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados. Essa ferramenta permite rastrear a venda de substâncias com potencial de causar vício.

Minas Gerais se destacou no monitoramento de codeína. O estado reduziu em 40% as vendas irregulares após integrar farmácias em um sistema único.

A OMS lançou a estratégia Global Medication Without Harm entre 2017 e 2022. O plano orienta nações sobre boas práticas para evitar danos relacionados a fármacos.

O papel dos profissionais de saúde na prevenção

A Atenção Básica ampliou a atuação de farmacêuticos. Esses especialistas agora orientam pacientes sobre uso correto e riscos de automedicação.

Entre 2019 e 2022, a Universidade Aberta do SUS capacitou 15 mil profissionais. O foco foi identificar sinais de consumo problemático e oferecer ajuda adequada.

Prontuários eletrônicos integrados estão em discussão. A medida facilitaria o acompanhamento de pacientes entre redes pública e privada.

O caminho para um uso mais consciente de medicamentos

O ano de 2022 marcou avanços significativos na produção e distribuição responsável de fármacos. Investimentos de R$ 2,3 bilhões em parques tecnológicos reforçam a indústria nacional até 2030.

A parceria Fiocruz-MS ampliará a produção de 45 substâncias essenciais. Programas como “Remédio Certo” no Paraná mostram como educação reduz riscos.

Agentes comunitários levam orientação sobre consumo seguro. Universidades públicas fortalecem a pesquisa com novos fármacos menos nocivos.

Selos de qualidade para farmácias e campanhas digitais mirando jovens completam a estratégia. O mercado responde com mais transparência e acesso a informações confiáveis.

Imagem: canva.com

Giselle Wagner é formada em jornalismo pela Universidade Santa Úrsula. Trabalhou como estagiária na rádio Rio de Janeiro. Depois, foi editora chefe do Notícia da Manhã, onde cobria assuntos voltados à política brasileira.